quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Obras mais baratas lideram crescimento: Feiras com peças a partir de R$ 2.000 e novas lojas on-line assumem dianteira da expansão do mercado de arte


Eventos como a Parte dobram de tamanho enquanto galerias virtuais planejam até abrir espaços físicos

SILAS MARTÍDE SÃO PAULO
Na última feira Parte, há duas semanas, o empresário Henrique Noya se apaixonou por uma escultura. Decidiu comprar na hora, parcelada em três vezes no cartão de crédito, a obra de R$ 9.500.
"Não posso dizer que tenho uma coleção ainda", dizia. "A gente se mudou para um apartamento maior e queria coisas bacanas para decorar", emendava sua mulher, Violeta.
Em feiras com obras mais baratas, em que trabalhos custam em média R$ 7.000, esse comportamento se repete cada vez mais. Organizadores da Parte estimam ter movimentado mais de R$ 4 milhões, 20% a mais do que no ano passado.
É um crescimento superior ao das galerias mais estabelecidas, que embora tenham registrado uma expansão de 27,5% no ano passado, segundo dados da Abact, associação que representa essas casas, deverá encerrar 2014 com um aumento abaixo de 20%, também de acordo com projeções do mesmo grupo.
Desde que surgiu há quatro anos, a Parte já dobrou de tamanho e turbinou o surgimento de eventos parecidos pelo país, como a Artigo, no Rio, e uma feira que o Memorial da América Latina abre em dezembro. Também alavancou a esfera virtual, sinalizando que esse segmento mais popular tomou a dianteira do mercado.
"Tem gente que vem e faz um rapa', levando cinco obras de uma vez", conta Lina Wurzmann, uma das diretoras da Parte. "São pessoas que têm poder aquisitivo, mas não têm hábito de comprar. É uma questão de treino do olhar."
'GOSTOU? COMPRA'
Também é questão de perder o receio de entrar numa galeria de arte. Nesse ponto, as lojas on-line, em que clientes compram obras de até R$ 6.000 sem ser intimidados pela rispidez que reina no meio, vêm crescendo no país.
Uma das maiores delas, a DemocrArt, está há quatro anos na esfera virtual e cresceu tanto que planeja abrir cinco galerias físicas em três capitais do país em 2015, esperando dobrar o faturamento anual de R$ 3,5 milhões.
Outras galerias virtuais, como a Conectearte e a Turn To Art, também relatam vendas bem acima das expectativas.
Elas ilustram a consolidação de um fenômeno que já vingou no exterior. Um relatório recente da seguradora britânica Hiscox calculou que o mercado global de arte on-line movimentou R$ 4,2 bilhões no ano passado e deve chegar a R$ 9,8 bilhões nos próximos quatro anos.
De acordo com o mesmo estudo, a porta de entrada para esse mercado são gravuras e serigrafias em edições limitadas. São peças de menos de R$ 2.000 que atraem 55% dos colecionadores iniciantes --é o grosso do que vendem as novas galerias virtuais no país.
"Esses sites desmistificam a coisa", diz Fernanda Marochi, sócia do Turn To Art. "Mostra que arte pode ser acessível. Gostou? Compra." Folha, 19.11.2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário