quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Artista expõe autorretratos sobre emprego e idealização: 'Fired', de Cris Bierrenbach, discute sonhos e estereótipos das profissões

Fotografias foram atingidas por tiros para subtrair a identidade da fotógrafa e realçar problemas coletivos
DAIGO OLIVAEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
Policial, enfermeira, jogadora de futebol, empregada doméstica, gari, recepcionista, executiva, aeromoça, chef de cozinha e prostituta.
Essas são as dez profissionais "demitidas" que a artista paulistana Cris Bierrenbach, 48, expõe ao público a partir de hoje na mostra "Fired", em cartaz na galeria Lourdina Jean Rabieh, em São Paulo.
Em fotografias impressas em tamanho real, Bierrenbach registrou a si mesma vestindo uniformes de ofícios facilmente reconhecíveis para discutir não só a padronização e os estereótipos do trabalho, mas também a crise do mercado.
"Da mesma forma que há o sonho do casamento, do príncipe e do final feliz, a profissão é um sonho também", explica a artista.
"O que você vai ser quando crescer?' é uma pergunta recorrente. Desde sempre a gente tem essa ideia do uniforme, do ideal", completa.
O nome da mostra, em inglês, brinca com as traduções da palavra "fired".
Ao mesmo tempo em que o vocábulo pode significar "demitido", também faz alusão aos disparos com armas de fogo realizados pela artista contra as imagens.
Depois de se autodocumentar, Bierrenbach levou as fotografias para um estande de tiro, onde, utilizando armas de calibre 12 e 38, mirou a "cabeça" dos autorretratos.
Em alguns casos, a artista utilizou explosivos.
Segundo Bierrenbach, ao apagar o próprio rosto, ela deixa de representar a si mesma para se tornar uma condição coletiva.
"A minha questão não é o autorretrato, não sou eu ali. Eu acabo me usando como um suporte", diz.
NOIVAS
O recurso é similar ao que a fotógrafa havia utilizado na série "Noivas - Aluguel e Venda", de 2004.
Na obra, Bierrenbach percorreu a rua São Caetano, na região central de São Paulo, conhecida pelas lojas de roupas de casamento, e pegou emprestados diferentes vestidos para se transformar em um catálogo de noivas.
No lugar da cabeça de Bierrenbach, um forte flash escondia o rosto da artista, fazendo o mesmo papel dos tiros e explosivos de "Fired".
"Eu até brinco que essa [nova] série são as noivas dez anos depois, quando elas estão no mercado de trabalho e só estão se ferrando", conta, aos risos.

Pesquisa traz à tona trabalhos perdidos de Flávio de Carvalho: Peças do artista, garimpadas em depósitos públicos de São Paulo, estarão em mostra na Oca

Entre os achados estão figurinos para o balé 'O Cangaceiro', de 1954, e as plantas originais das casas na alameda Lorena
SILAS MARTÍDE SÃO PAULO
Mais do que artista plástico, Flávio de Carvalho, morto aos 73 há 40 anos, foi engenheiro, arquiteto, cenógrafo, diretor teatral, performer, designer e cineasta frustrado. Também acabou sendo vítima dessa pluralidade estonteante, já que parte de sua obra acabou espalhada --às vezes esquecida-- em arquivos e depósitos públicos.
Ele tentou refundar os costumes, revendo a moda europeia no clima tropical, reinventando a ideia de moradia ao construir uma vila modernista na alameda Lorena, em São Paulo, e pregando uma arquitetura "nua e lisa". Agora, tem uma parte de sua história desenterrada.
Um garimpo feito no Theatro Municipal, em salas da biblioteca Mário de Andrade e até em fundos de gaveta do Arquivo Histórico trouxe à tona uma série de trabalhos até agora dados como perdidos. A pesquisa foi feita nos últimos meses pela equipe do Museu da Cidade, responsável pelo acervo municipal.
Entre as obras estão 12 figurinos do balé "O Cangaceiro", encenado por Carvalho nas comemorações dos 400 anos de São Paulo, em 1954, e as primeiras plantas das obras na alameda Lorena.
O Museu da Cidade tentará integrar agora esses itens à coleção de arte de São Paulo, fazendo saltar de quatro para cerca de 40 o número de obras de Carvalho catalogadas no acervo público.
Esse conjunto recém-descoberto também será o ponto forte da ocupação da Oca pela coleção da cidade a partir de janeiro do ano que vem, que estreia com uma grande mostra dedicada ao artista.
"Estamos tomando o caso do Flávio de Carvalho como referência para pensar os objetos na coleção", diz Afonso Luz, diretor do Museu da Cidade. "Essas peças são documentos vivos da história."
Mas, segundo Luz, o esquecimento delas se deu por causa do "olhar conservador sobre seu significado estético".
"Temos o desafio de organizar milhares de bens culturais guardados em inúmeros depósitos e reservas técnicas espalhadas pela cidade", afirma. "Um dos motivos dessa dispersão é que o conceito corrente de artes visuais é de objetos de parede, obras que funcionam como decoração."
ELO PERDIDO
Os vestidos desenhados por Carvalho para "O Cangaceiro" representam uma espécie de elo perdido na trajetória do artista --um contraponto aos experimentos com moda nas performances que ele orquestrou.
Enquanto Carvalho trouxe aspectos femininos ao guarda-roupa do homem em 1956, quando caminhou de saia e meia arrastão pelo centro da cidade na ação "Experiência nº 3", os vestidos de seu balé eram masculinizados, algo entre o sensual e a robustez de jagunços.
Também têm grande ressonância agora as plantas originais da alameda Lorena. Com as casas hoje em grande parte descaracterizadas, algumas funcionando como lojas, os documentos podem servir de base para um restauro das construções que Carvalho criou nos anos 1930 como "máquinas de morar".
Artista criou 17 casas nos Jardins, em SP
O desenho reproduzido no alto desta página é uma das plantas originais feitas por Flávio de Carvalho para as 17 casas que construiu na alameda Lorena, em São Paulo. As plantas podem ajudar a restaurar as construções, datadas de 1936.

Flávio de Carvalho é tema de mostra e documentário
Nos 40 anos de sua morte, modernista tem pinturas exibidas na Faap
Plural, artista também tentou fazer cinema; sua iniciativa de rodar um longa na Amazônia é analisada em filme
DE SÃO PAULO
Enquanto a Oca deve receber em janeiro um recorte expandido da produção de Flávio de Carvalho, que vai da arquitetura aos figurinos, uma mostra em cartaz agora no Museu de Arte Brasileira da Faap reúne a ala mais tradicional de sua obra, com retratos de gente como os maestros brasileiros Eleazar de Carvalho (1912-1996) e Camargo Guarnieri (1907-1993).
Tudo, aliás, está interligado nessa história, já que Guarnieri, retratado por Carvalho, compôs "O Cangaceiro", balé que teve os figurinos criados pelo artista plástico.
Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do museu da Faap, não dá a mesma ênfase aos projetos de Carvalho para além da pintura.
"Dizer que a obra dele como figurinista é tão significativa quanto a obra de pintor e de arquiteto é uma afirmação desequilibrada", diz Branco Ribeiro. "Ele não tem uma preocupação com moda. Vejo as atitudes dele como de alguém que contraria regras, um iconoclasta."
'DEUSA BRANCA'
Iconoclasta ou só inquieto, Carvalho também tentou ser cineasta. Sua iniciativa de rodar um filme na Amazônia, para onde levou duas loiras esbeltas e dispostas a encarnar sua "Deusa Branca", virou alvo de um documentário lançado no Itaú Cultural e que deve entrar no circuito de festivais em 2014.
No filme, o diretor Alceu Braga destrincha os bastidores de uma expedição do artista à selva em 1958.
Sem roteiro, Carvalho pretendia gravar o embate de sua trupe com uma perigosa tribo de canibais, os xirianãs.
Mas sua desgraça não veio pelas mãos dos índios, que serviram até banquete de macacos assados à equipe, e sim por ter se apaixonado por uma atriz, que conquistara também o capitão da expedição. Irritado, Carvalho até trocou tiros com o rival, embora nenhum tenha se ferido.
A expedição fracassada sepultou a incursão cinematográfica do artista.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

De Big Apple a Gran Manzana: Passado hispânico si de baixo do tapete

Quando publicou um editorial em apoio a Bill de Blasio, o então candidato democrata à Prefeitura de Nova York, o jornal "The New York Times" argumentou que a cidade havia obtido "muitos sucessos" ao longo dos três mandatos consecutivos de Michael Bloomberg (2001-13), mas seu "renascimento" ainda precisava se completar.
A metrópole que enfrentou a criminalidade, reorganizou as finanças, revitalizou bairros e redesenhou espaços públicos continua a conviver com padrões incômodos de desigualdade social.
De Blasio, segundo o "Times", é o homem indicado para "dar voz aos nova-iorquinos esquecidos", os 46% que vivem próximos à linha de pobreza, os milhares que dormem em abrigos públicos, as famílias de baixa renda que não conseguem pagar aluguel e são empurradas para longe na luta pela sobrevivência.
Grande parte da retumbante vitória que De Blasio afinal conquistou (ele é um típico progressista que quer taxar ricos para financiar o ensino público infantil) se deve à comunidade de origem hispânica.
Os considerados brancos, que eram 42% da população nova-iorquina em 1990, são hoje 33% -enquanto os hispânicos já chegam a 29%.
Ouve-se gente falando espanhol em cada esquina, em cada balcão, em cada carrocinha de cachorro-quente.
PINTA
A presença hispânica também é marcante no mundo das artes e da cultura. No fim de semana passado aconteceu a Pinta, a feira de arte latino-americana, que reúne galerias de países do continente, além de americanas, espanholas e portuguesas. O evento, que andou caído nas últimas edições, reapareceu com vigor, num endereço bacana (na r. Mercer, 82), no bairro do Soho.
Em atmosfera intimista, a feira designou alguns curadores que selecionaram artistas e galerias para participar das diversas seções -como arte moderna, arte contemporânea, vídeos e emergentes.
As galerias brasileiras Casa Triângulo e Baró foram convidadas para o "Emerge", setor coordenado pelo colombiano José Roca, curador-
assistente de arte latino-americana da Tate, de Londres. A feira também teve uma programação de debates, dois deles dedicados a nomes brasileiros -os incontornáveis Hélio Oiticica e
Oscar Niemeyer.

Não pude comparecer à mesa que discutiu a obra do artista carioca, mas assisti ao painel sobre nosso arquiteto mais famoso, com a presença de Carlos Brillembourg, da Brillembourg Architects, e de Patricio del Real, curador-assistente do departamento de arquitetura e design do MoMA. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
CASA ESPANHOLA
Enquanto isso, o Museu do Brooklyn apresenta até janeiro uma exposição intitulada "Atrás das Portas: Arte na Casa Hispano-Americana (1492-1898)", a primeira grande mostra realizada nos Estados Unidos sobre a vida privada e os interiores das residências da elite espanhola que viveu na América, da descoberta até o fim do século 19.
São cerca de 160 pinturas, esculturas, gravuras, tecidos e objetos de arte decorativa, que remetem o visitante a temas como a representação pictórica dos indígenas, os sinais distintivos da nobreza, o esquadrinhamento da casa e os rituais da vida doméstica.
A convite de Gabriel Pérez-Barreiro, diretor da prestigiada Coleção Patricia Phelps de Cisneros (que cedeu peças para a exposição), tive a oportunidade de participar de uma visita guiada, com o curador Richard Aste. Uma aula.
O império espanhol chegou a ocupar mais da metade do território hoje pertencente aos Estados Unidos -uma longa e tumultuada história, muitas vezes empurrada para debaixo do tapete, que continua a bater à porta do "sonho americano".
SERRA NA GAGOSIAN
Poucas coisas exibidas no circuito de arte em Nova York causam tanta impressão quanto a nova escultura que Richard Serra instalou na galeria Gagosian, na r. 21, no bairro de Chelsea (www.gagosian.com).
São duas peças de aço justapostas, que formam uma estrutura sinuosa de grande escala, com espaços e caminhos internos pelos quais -como em outras obras do artista- as pessoas podem transitar. As dimensões impressionam: as duas "metades" têm 4 metros de altura, e o conjunto alcança 25 metros de extensão por 12,2 metros de largura.
Nascido em San Francisco em 1938, Serra é um dos maiores escultores de nosso tempo, justamente celebrado em todos os quadrantes do planeta.
E, sim, também ele é parte da herança hispânica na América: seu pai, Tony, era um imigrante de Mallorca que foi morar na Califórnia. Hasta la vista, baby.
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES, 57, é jornalista da Folha em Nova York. 24.11.2013
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Caminhada em linha reta até o espanto: A política na poesia de Ferreira Gullar

RESUMO Enquanto os poemas de juventude de Ferreira Gullar eram impulsionados por uma perspectiva utópica, sua obra atual preza o efêmero. Reconhece-se, nessa poética que se quer menos ideológica, a opinião por ele expressada em artigos e entrevistas recentes de que existe no mundo uma ordem natural contra a qual não há que ir.
MIGUEL CONDE
NUM ENSAIO publicado em 1982, o crítico João Luiz Lafetá definiu Ferreira Gullar (1930) como poeta da "caminhada em linha reta".
Metáfora da resolução obstinada que, para Lafetá, levaria Gullar a recusar os desvios e paradas pelo caminho para ir sempre até o fim de suas inquietações, buscando respostas decisivas às questões que movem sua poesia. Metáfora no entanto surpreendente, talvez, para quem se acostumou nos últimos anos a ouvir o colunista da Folha se definir como um poeta do espanto.
Se refletirmos um pouco sobre essas duas figuras, elas parecem mesmo quase o contrário uma da outra --a linha reta supõe urgência e deliberação, portanto também um rumo qualquer, enquanto o espanto, por definição, é inesperado e circunstancial.
Esticando esse cotejo meio associativo, pode-se dizer ainda que o espanto é a experiência que, em razão de seu imprevisto, nos obriga a interromper o passo. Uma poética do espanto está portanto mais próxima do sobressalto, das epifanias de circunstância, enquanto a caminhada em linha reta indica certa cisma ou ideia fixa.
Não é um acaso que as metáforas pareçam incompatíveis. Elas de fato se referem a dois poetas diferentes, ou, dizendo melhor, a dois momentos profundamente distintos da produção de um mesmo poeta.
Um comentário feito pelo crítico Ariel Jiménez no recém-lançado "Ferreira Gullar conversa com Ariel Jiménez" [Cosac Naify e Fundación Cisneros; R$ 49,90; 256 págs.] ajuda a pensar o sentido histórico desse contraste. Na parte final do livro, um extenso diálogo com jeito de perfil autobiográfico, Jiménez observa "um traço de intimidade" que sobressai na poesia de Gullar a partir do "Poema Sujo" (1976), associando essa nova inflexão à constatação de que as "utopias, políticas ou não, estão mortas" e o que resta é apenas "o presente".
O espanto seria então a figura possível da criação poética numa época que já não dispõe de utopias. O que significa dizer: não dispõe de certo horizonte ideal que sirva de rumo para a negação transformadora do presente, talvez por reconhecer em tal horizonte uma miragem ou abstração vazia, em contraste com a concretude do atual. Isso sem dúvida combina com o reconhecimento do capitalismo como destino natural da espécie humana que encontramos nos artigos e entrevistas recentes de Gullar.
Daí que, enquanto nos primeiros livros de Gullar predomina o sentimento de que "a iluminação epifânica é breve e insuficiente" (como escreve Lafetá), em seus trabalhos mais recentes, pelo contrário, a epifania seja aceita em sua brevidade e insuficiência como o próprio sentido do fazer poético, agora compreendido numa chave mais modesta como expressão das experiências de espanto individual.
EQUILÍBRIO A observação de Ariel Jiménez expõe também a limitação dos numerosos comentários críticos sobre a "maturidade" e o "equilíbrio" que caracterizariam o Gullar pós-"Poema Sujo" --podem ser mencionados, como exemplos, os comentários de Fausto Cunha, Miguel Sanches Neto e Alfredo Bosi, além do próprio Lafetá--, em contraste implícito com o que se deveria descrever como um ímpeto juvenil, que até então conduziria a sua obra à busca por soluções absolutas, terminando sempre em novos impasses.
Em si mesma já questionável, na opção pelo sopeso cuidadoso que leva ao elogio do equilíbrio da dicção poética, o que essa caracterização parece deixar em aberto é sobretudo a relação entre esse arrefecimento e as novas inflexões dadas pelo poeta, nos últimos anos, à sua participação na vida cultural e política do país.
Fenomenologia, concretismo, neoconcretismo, marxismo, são todos termos que, no caso de Gullar, se ligam não apenas a posições teóricas ou existenciais mas definem também --sem, é claro, esgotá-las-- sucessivas inflexões de sua criação poética. Mas, se todos esses fios se entrelaçam numa trama apertada nos relatos do próprio Gullar a respeito das primeiras décadas de sua trajetória, esse tecido literário-biográfico se torna visivelmente mais frouxo nos últimos anos.
É como se não houvesse mais ligação clara entre o que Gullar escreve ao comentar a vida brasileira, ao discutir arte contemporânea e ao criar poemas e, portanto, os caminhos antes imbricados numa mesma trajetória se tornassem vias paralelas. De um lado o poeta do espanto, de outro o comentador social para quem "o empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas" e o capitalismo é "invencível" pois nasceu "dos instintos do ser humano".
O mais importante esforço de articulação entre criação poética e postura político-existencial na obra de Gullar, à parte os textos dele próprio, é o ensaio de Lafetá citado acima. Intitulado "Traduzir-se", em referência ao poema de "Na Vertigem do Dia"(1980) que toma de epígrafe, o texto está recolhido em "A Dimensão da Noite"[Editora 34; R$ 68; 576 págs.], publicado em 2004, com organização de Antonio Arnoni Prado.
Por meio de uma alternância notável entre detalhe e panorama, Lafetá percorre a obra de Gullar dos primeiros poemas até o início dos anos 1980, identificando como problema fundamental de sua obra ("o demônio de sua poesia", na bela formulação do crítico) a "consciência do tempo humano como incapacidade de plenitude", reconhecimento lúcido em tensão com o desejo desmedido "de coincidir com o absoluto".
Esse problema teria no primeiro Gullar um sentido existencial, orbitando em torno da cisão eu- mundo, para depois tornar-se questão histórica, indivíduo-totalidade social. No "Poema Sujo", diz Lafetá, Gullar encontraria uma solução positiva para o impasse, reconhecendo, nas infinitas diferenças que separam e multiplicam as coisas, uma potência do diverso, e não mais a tragédia da comunhão, síntese ou verdade impossível.
Algo semelhante ao que Alcides Villaça, em tese de doutorado defendida em 1984 e até hoje infelizmente inédita, chamaria de "multiplicação dos regimes de existência" no "Poema Sujo", já que nele o "diálogo" da enunciação poética não se dá mais com o tempo cósmico, concebido como medida absoluta e comum da existência, mas antes "com um outro humano" e a "pluralidade da vida".
EXISTENCIAL Talvez fosse possível ampliar o quadro de leitura proposto por Lafetá para incluir nele os livros mais recentes do poeta, "Muitas Vozes" [José Olympio, R$ 25; 144 págs.], de 1999, e "Em Alguma Parte Alguma" [idem, R$ 32; 144 págs.], de 2010, argumentando que, em sua poesia tardia, Gullar se volta novamente sobre uma figuração mais existencial da sucessão temporal, mas agora sem o páthos da totalidade que impulsionava dramaticamente seus poemas da juventude.
Em vez do fogo que consumia o cosmos em seus primeiros livros e reunia os seres numa atividade comum de criação dispendiosa da própria existência (em "A Luta Corporal", de 1954, ser é consumir-se), a figura decisiva da poesia recente de Gullar é o relâmpago, que dá a ver de maneira súbita o mundo que nossos hábitos rotineiros acabam tornando invisível.
Nessa fase tardia, portanto, os limites do corpo e da consciência, embora às vezes perturbadores, não são de fato um problema a demandar respostas como as notáveis metamorfoses de "A Luta Corporal", mas apenas o "locus" dos pequenos insights, encontros e sublimidades inesperadas de que se faz a poesia.
O eu-poético resigna-se à circunscrição de seu mundo particular, pois a totalidade torna-se mera especulação abstrata, relativamente desimportante diante da concretude afetiva e material da experiência individual do mundo.
"O sentimento do limite é intenso e atravessa esta última escrita de Gullar", escreve Alfredo Bosi no prefácio a "Em Alguma Parte Alguma". De fato, o contraste entre o imediato e o ilimitado se torna um dos motivos constantes da poesia recente de Gullar, como em "Universo": "Vi pouco do universo: afora a asa/ de pó e luz da via Láctea, o que conheço/ são as manhãs que invadem a minha casa".
Não há nessa limitação, porém, nada de trágico, pois os corpos celestes importam bem menos do que o "gatinho, meu amigo" de "A Estrela": "Pouco me importa/ quanto dura uma estrela./ Importa-me quanto duras tu/ querido amigo,/ e esses teus olhos azul-safira/ com que me fitas".
Da mesma maneira, em "Pergunta e Resposta", a dúvida sobre o sentido da poesia diante de um universo vasto e indiferente se dissipa diante da presença mundana, terrena, da mulher amada, afinal o poema só será "Inaudível/ Para quem esteja/ Na galáxia NGC 5128/ Ou na constelação/ de Virgo ou mesmo/ em Ganimedes/ onde felizmente não estás,/ Cláudia Ahimsa,/ poeta e musa do planeta Terra".
Desnecessário portanto buscar uma resposta à pergunta, pois ela já é conhecida de antemão e anunciada antes mesmo que se inicie a leitura do poema.
O conhecido bordão do poeta "não quero ter razão, eu quero é ser feliz" --aliás contradito por sua permanente disposição para o debate-- às vezes parece querer dizer algo do tipo "não preciso discutir, porque já sei que estou certo".
É que a fase atual de Gullar, ao mesmo tempo em que rejeita o absoluto em favor do reconhecimento modesto do valor do parcial, pretende-se ela mesma uma espécie de palavra final, uma fase depois do fim das fases. Como se a perspectiva pós-utópica fosse não ideológica, mero reconhecimento equilibrado e maduro da ordem natural das coisas ("Nem todo mundo pode ser Bill Gates"), contra a qual seria insensato bater-se.
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As metáforas da linha reta e do espanto se referem a dois poetas diferentes, ou melhor, a dois momentos profundamente distintos da produção de um mesmo poeta
O conhecido bordão do poeta,"não quero ter razão, eu quero é ser feliz", às vezes parece querer dizer algo do tipo "não preciso discutir, porque já sei que estou certo"
O espanto seria a figura da criação numa época que já não dispõe de utopias, de horizonte a servir de rumo para a negação transformadora do presente
    Fonte: Folha, 24.11.13

Marina Abramovic - Performer planeja construção em nome da arte

Por SARAH LYALL
Em nome da arte, ela já se pendurou em uma parede, nua, e cortou seu próprio abdome com uma lâmina. Ela se masturbou num museu. Revirou uma pilha de ossos sangrentos, comidos por larvas, num porão fétido. Ficou parada enquanto desconhecidos encostavam uma arma de fogo em sua cabeça e a espetavam com espinhos. Ficou sentada em silêncio durante sete horas por dia enquanto pessoas faziam fila para meditar em sua aura no Museu de Arte Moderna.
Agora, a performer Marina Abramovic está lançando o projeto que talvez seja o mais ambicioso de sua carreira, que já dura 40 anos. EmHudson, Estado de Nova York, ela pretende erguer o Instituto Marina Abramovic: uma meca para atrair artistas, cientistas e pensadores, além de pessoas dispostas a vestir aventais brancos de laboratório e a se submeter a três horas de purificação de corpo e mente.
O plano reflete a mudança do rumo da artista nos últimos anos, numa carreira feita de duas partes distintas. Primeira parte: Marina Abramovic, a artista experimental vanguardista e introspectiva nascida em Belgrado, amplia os limites da arte ao se submeter a sofrimentos físicos e mentais. Segunda parte: Marina Abramovic, queridinha das celebridades, fazendo colaborações com astros do cinema, do pop e do hip-hop.
Tudo isso não tem sido recebido com aclamação universal. Alguns artistas e críticos acusam a performer de cultivar algo que se parece muito com um culto à personalidade.
Para eles, Abramovic parece estar tão apaixonada pelos holofotes -tão envolvida em dançar com Jay-Z, fazer exercícios de purificação mental com Lady Gaga e curtir a vida com o ator James Franco- que corre o perigo de trair não apenas suas próprias origens, mas também, talvez, a verdadeira natureza da performance.
O termo descreve, a grosso modo, trabalhos experimentais que não são teatro e que tendem a destacar o relacionamento direto, sem mediação, entre artista e público. Na década de 1970, quando a performance foi reconhecida como gênero artístico legítimo nos EUA, muitos performers adotaram o princípio de que a performance nunca deve ser apresentada mais de uma vez e nunca deve ser convertida em um produto.
"Tenho muito respeito por Marina, mas acho que o mundo das artes enlouqueceu", comentou Amelia Jones, professora de história da arte na Universidade McGill, em Montreal.
"Fico me perguntando qual será o próximo passo. Será que ela vai abrir seu próprio pequeno país em algum lugar?"
Abramovic não se abala com comentários desse tipo.
"Quando me levantei da cadeira, estava transformada", declarou em entrevista dada em setembro, aludindo ao momento em que ficou em pé ao final de "A Artista Está Presente", sua performance de 2010 no Museu de Arte Moderna. "Eu sabia que a longa duração era a resposta para tudo, para mim. E com isso surgiu a ideia do instituto de forma mais clara."
Abramovic, 66, disse que o instituto não será uma celebração do trabalho dela, propriamente dito. Será algo maior, um "spa cultural". "Trata-se de algo imaterial, uma colaboração entre arte, ciência, espiritualidade e tecnologia", disse.
"É quase como uma ideia nova da Bauhaus -de como cabeças diferentes de áreas distintas se reúnem para criar algum tipo de realidade nova."
Depois de construir o instituto, ela pretende se distanciar dele. A ideia atual é que os visitantes paguem US$ 75 cada um e se comprometam a ficar no local por seis horas, metade das quais devem ser passadas submetendo-se ao "método Abramovic".
Este, explicou a artista, nasceu de exercícios que ela idealizou para preparar participantes a encenar ou vivenciar arte. Alguns exemplos são nadar nu em um rio gelado, expressar raiva a uma árvore ou passar uma hora tomando um copo de água.
No instituto, os visitantes vão pressionar seu corpo contra cristais ou, possivelmente, ficar deitados sobre uma plataforma, ou meditar usando vendas sobre os olhos e tampões nas orelhas.
As possibilidades são infinitas, segundo Abramovic.
"O artista precisa ser servo da sociedade. O ego é um obstáculo enorme à arte."
Fonte: NYT.
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Morre aos 85 o gravurista Gilvan Samico

Artista despontou ao lado de Suassuna no movimento Armorial, explorando mitos do Nordeste e literatura de cordel
Um dos maiores nomes do Brasil nessa técnica, pernambucano foi aluno de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi
SILAS MARTÍDE SÃO PAULO
Morreu ontem no Recife, aos 85, o artista Gilvan Samico, vítima de câncer na bexiga. Nos últimos meses, havia sido internado algumas vezes no Real Hospital Português, na capital pernambucana, mas médicos diziam que sua doença já era incurável.
Seu corpo seria cremado ontem à noite no cemitério Morada da Paz, em Paulista, nos arredores do Recife.
Um dos maiores nomes da gravura nacional, Samico foi aluno de mestres como Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi.
Depois de uma temporada na Europa e de voltar a Olinda, onde vivia, se aproximou do escritor Ariano Suassuna e se tornou um dos maiores nomes do movimento Armorial, que criou arte erudita a partir de ícones da cultura popular nordestina.
Samico se firmou na xilogravura criando alegorias de linhas fortes e de alto contraste ancoradas em mitos e lendas populares. Embora no início tenha se influenciado pelo realismo social de Abelardo da Hora, sua produção depois adotou formas mais depuradas e precisas.
"Poucas vezes um artista teve tanto rigor e determinação. É um trabalho de uma grandeza, espiritualidade e transcendência raros de ver num artista brasileiro. A prática da gravura dele é uma coisa quase religiosa. Foi um dos grandes artistas entre nós." disse Ivo Mesquita, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Para Marcelo Araujo, secretário paulista da Cultura, Samico foi um "homem erudito", que articulou "a grande tradição da gravura ocidental com questões locais do Nordeste".
"Era o maior xilogravador vivo no país", diz Vilma Eid, da galeria Estação, que representa a obra em São Paulo.
Suas obras mais recentes, expostas no ano passado, são uma terceira via entre o movimento Armorial e a escuridão que observava na obra de Goeldi, mesclando enredos que "vêm de dentro" e amortecendo a estridência tropical de Olinda em composições mais fechadas. "Comecei a tentar conter a imagem toda dentro do espaço", disse Samico à Folha em junho do ano passado.
Ele deixa a mulher, Célida, dois filhos e três netos.

ANÁLISE
Herdeiro de expressionistas se sobressaiu com obra colorida
FABIO CYPRIANOCRÍTICO DA FOLHA
Gilvan Samico foi um dos principais gravuristas brasileiros. Com dragões, serpentes, leões e personagens folclóricos, advindos de narrativas míticas, Samico construiu uma obra única, marcada por conjugar as culturas erudita e popular.
Essa marca teve início em 1963, quando realizou a gravura "O Boi Feiticeiro e o Cavalo Misterioso", criada a partir da observação dos folhetos de literatura de cordel.
"Eu já conhecia gravadores populares e não queria imitá-los. Li os folhetos e vi que, no texto sim, havia inspiração, em como eles extrapolam o mundo real, foram as narrativas que me interessaram", disse Samico à Folha, em Olinda, onde vivia, pouco antes de realizar sua maior retrospectiva em São Paulo, na Pinacoteca do Estado, em 2004.
Contudo, além dos textos imaginativos, Samico ainda apropriou-se do grafismo usado pelos gravadores populares.
"Observei as capas dos folhetos de cordel, com estruturas rígidas, e abstraí as imagens me utilizando das organizações gráficas", afirmou, ainda, o artista na mesma entrevista.
"Suzana" (1966) é a obra que marca essa mudança.
Samico pode ser considerado descendente direto de Lívio Abramo (1903""1992) e Oswaldo Goeldi (1895""1961), os dois gravuristas brasileiros mais influentes da primeira metade do século 20, já que estudou com ambos.
Contudo, ao contrário das marcas soturnas, herança do expressionismo alemão em Abramo e Goeldi, Samico sobressaiu-se ao criar uma obra colorida, de grandes dimensões e marcada por expressar histórias baseadas em temáticas populares, não só brasileiras, como "A Caça", de 2004.
Nela, ele inspirou-se em uma lenda contada pelo ensaísta uruguaio Eduardo Galeano, em "Memória do Fogo", sobre a história de um esquimó.
Desde a década de 1970, Samico passou a criar apenas uma gravura por ano, o que se vê pela intensa dedicação e refinado acabamento de cada uma delas.
Fonte: Folha, 26.11.13.
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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Britânico da vez faz a sua 1ª exposição em São Paulo: Eddie Peake expõe trabalhos inéditos na filial da galeria inglesa White Cube

Artista apontado pela crítica como promissor ficou conhecido por performance que mistura sexo e futebol
MARCOS AUGUSTO GONÇALVESDE NOVA YORK
Na noite da última quinta, uma pequena multidão esperava apertada no saguão do Instituto Suíço, no Soho, em Nova York, pelo início da performance "Endymion", do artista britânico Eddie Peake.
Com pouco mais de 30 anos, Peake era uma das principais atrações da Performa, prestigiosa bienal dedicada ao gênero, criada por RoseLee Goldberg em 2004.
O público rapidamente ocupou as margens da sala de dois níveis onde sete bailarinos, quatro pintados de ouro e três de negro, encenaram uma coreografia na qual distanciamento e contato, frieza e erotismo se alternavam ao som eletrônico.
Peake é o mais jovem a ser representado pela White Cube, galeria de arte do Reino Unido. Ele inaugura hoje a filial paulista, com sua primeira mostra na América do Sul.
A exposição, com 19 obras inéditas, "Caustic Community (Masks and Mirrors)" apresenta um diálogo entre duas séries de pinturas: as "de máscara" e as "de espelho".
Peake não é --como ele mesmo diz-- "um expert em cultura brasileira".
"Mas incidentalmente", conta, "usei um sample de Sarah Vaughan (1924-1990) cantando Dindi', de Tom Jobim (1927-1994), na performance de Nova York".
Inglês, ele também gosta de futebol --e logo que chegou a São Paulo foi assistir a um decepcionante 0 x 0 entre Corinthians e Vasco.
"Quando era estudante escrevi um ensaio sobre conexões entre futebol e arte que, honestamente, não deveria ser muito bom, mas lembro de ter lido um monte de coisas sobre futebol brasileiro".
Uma das razões do sucesso midiático de Peake deve-se a uma combinação de futebol, sexo e voyeurismo.
Em 2012, encenou a performance "Touch", que consistia numa verdadeira "pelada": cinco jogadores de cada lado disputavam a pelota com uniformes que se resumiam a meias e chuteiras.
"Há alguns anos eu trabalho com imagens sexuais e temas correlatos. Em parte, isso se deve ao fato de que esse imaginário ressoa em mim de um modo que transcende a linguagem verbal", explica.
Artista emergente da vez, Peake evita o assunto. Questionado sobre um hype em torno dele, respondeu: "No comments".

Knispel traz olhar sobre conflitos do século 20 - Pintura

GUSTAVO FIORATTIDE SÃO PAULO

Gershon Knispel nasceu na Alemanha em 1932 e, com três anos de idade, foi levado pelos pais judeus à Palestina.
Lembra-se de grupos de refugiados da Segunda Guerra desembarcando entre os árabes, dos conflitos com colonos ingleses, conta que assistiu à criação do Estado de Israel, nos anos 1940.
Artista curioso e viajante inquieto, veio parar no Brasil nos anos 1950. Aqui, fez amizade com artistas da esquerda, entre eles o dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri e o arquiteto Oscar Niemeyer.
Suas telas, algumas delas expostas até o dia 5 de janeiro na galeria Marta Traba, no Memorial da América Latina, retratam eventos históricos sob o olhar de um artista que ainda hoje se diz comunista.
Horrores da guerra, levantes populares, cenas de escravidão desencadeiam-se a partir de pinceladas escuras, tons de cinza e de azul, e também em gravuras. Muitas das imagens inspiram-se em fotos de jornais, aproximando a obra de Knispel de um sentido documental.
CRUZADAS
É sobre essa produção que o artista fala, amanhã, às 19h, na galeria Marta Traba. A conversa, com entrada franca, terá participação do curador Fábio Magalhães, do ator Juca de Oliveira e do documentarista Silvio Tendler.
Entre as histórias, ele conta sobre como criou ilustrações para a edição brasileira do poema "Cruzada das Crianças 1939", de Bertolt Brecht, publicada no Brasil em 1962. E também de como recebeu a notícia de que o dramaturgo alemão havia se interessado pelo trabalho.
Fonte: Folha, 20.11.13.

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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Jeff Koons - Referência artística contemporânea

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Lady Gaga abraça a arte

JON PARELES - RESENHA

Em "Artpop", seu terceiro álbum gravado em estúdio, Lady Gaga descreve uma virada e se alinha com o mundo da arte, cantando: "A cultura pop estava na arte, agora a arte está na cultura pop, em mim".
Fiquei apreensivo na hora. Ela já não era uma artista?
Uma coisa é certa: Lady Gaga, nome de batismo Stefani Germanotta, vem trabalhando como artista, misturando o generalizado e o pessoal, o acessível e o inexplicável, coisas que chamam a atenção e outras que provocam perplexidade, algumas que mostram tino comercial e outras simplesmente estranhas.
Lady Gaga não diferenciava cultura pop e arte quando emergiu. Como os melhores astros pop, ela fez da mídia seu espaço. Por cima de sua música, em videoclipes e aparições públicas, ela empilhou um desfile de moda que nunca parava e uma imagem pública que se ampliava para abraçar os desajustados, rejeitados, não apreciados e sexualmente anticonformistas "monstrinhos", como apelidou seus fãs.
Mas "Artpop", lançado em 11 de novembro, a posiciona numa zona mais rarefeita: com os artistas performáticos e de galeria.
A capa do álbum é a escultura de uma Lady Gaga loira, com as mãos sobre os seios, que segura entre as pernas uma grande esfera azul e brilhante. A escultura é do artista pop Jeff Koons. É o retrato de uma pop star feito por um astro da arte -mas é rígido e pouco envolvente.
Lady Gaga também anunciou colaborações com nomes vanguardistas respeitados, como o artista de teatro Robert Wilon e a performer Marina Abramovic. Em sua página no Facebook, Lady Gaga escreveu que "Artpop" seria lançado com um app que, segundo ela, era "um sistema de engenharia musical e visual que combina música, arte, moda e tecnologia com uma nova comunidade interativa mundial -'as auras'".
A música de "Artpop" não é complexa. "Meu artpop pode significar qualquer coisa", canta Gaga na canção-título.
Lady Gaga conquistou o mundo com "The Fame", seu álbum de 2008 de canções dance com viés rock, e o EP que se seguiu a ele, "The Fame Monster", em 2009. Depois, "Born This Way", de 2011, fez os álbuns anteriores soarem moderados.
Agora, com "Artpop", Lady Gaga adota posição estranhamente defensiva. Na canção-título, ela rejeita a noção de uma desaceleração comercial, cantando "tentei me vender, mas na realidade estou rindo / porque simplesmente amo a música, não o brilho".
Durante boa parte do álbum, a impressão que se tem é que "Artpop" está ticando itens de uma lista que Lady Gaga recita em "Aura": "tec dança sexo arte pop". Não constam da lista, mas estão sem dúvida na pauta do reforço de sua marca registrada, canções sobre roupas.
O que falta no álbum é a antiga convicção de Lady Gaga de que o pop, em sua configuração do século 21 de música mais vídeo mais mídia social mais celebridade, é capaz de contar todas as histórias que ela queira. As apresentações espetaculares de Gaga no palco já construíram uma superestrutura artística em cima de suas canções.
O reconhecimento do mundo das belas-artes não deveria ter importância comparável à de mexer com as paixões dos monstrinhos.

Fonte: NYT, 19.11.13.

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Conduta ética e autonomia estética

A vida estética não está acima da lei

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Bienal de Arte de Veneza - Massimiliano Gioni

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Arte Conceitual

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A Arte Conceptual foi iniciada nos anos 60 do seculo XX (1965); prevaleceu pela década de 70 o que implicou uma remodelação dos processos criativos e expressivos.
Nesta arte valoriza-se mais a ideia da obra do que o produto acabado, sendo que às vezes este (produto) nem mesmo precisa de existir. É bastante expressada através de fotografias, vídeos, mapas, textos escritos e performances. Não existem limites muito bem definidos para que uma obra seja considerada Arte Conceptual já que esta abrange vários aspectos tendo como intenção desafiar as pessoas a interpretar uma ideia, um conceito, uma crítica ou uma denúncia. O objetivo é que o observador reflita sobre o ambiente, a violência, o consumo e a sociedade. Esta arte é vivenciada por todos os observadores do mesmo modo ou seja, ela não possui nenhuma singularidade aos olhos de quem a vê.

Esta perspectiva artística teve os seus inícios em meados da década de 1960, parcialmente em reação ao formalismo, sendo depois sistematizada pelo crítico nova-iorquino Clement Greenberg. Contudo, já a obra do artista francês Marcel Duchamp, nas décadas de 1950 tinha prenunciado o movimento conceitualista, ao propor vários exemplos de trabalhos que se tornariam o protótipo das obras conceptuais, como os readymades, ao desafiar qualquer tipo de categorização, colocando-se mesmo a questão de não serem objetos artísticos.

A arte conceitual recorre frequentemente ao uso de fotografiasmapas e textos escritos (como definições de dicionário). Em alguns casos, como no de Sol Lewitt,Yoko Ono e Lawrence Weiner, reduz-se a um conjunto de instruções escritas que descrevem a obra, sem que esta se realize de fato, dando ênfase à ideia no lugar do artefato. Alguns artistas tentam, também, desta forma, mostrar a sua recusa em produzir objectos de luxo - função geralmente ligada à ideia tradicional de arte - como os que podemos ver em museus.
O movimento estendeu-se, aproximadamente, de 1967 a 1978. Foi muito influente, contudo, na obra de artistas subsequentes, como no caso de Mike Kelley ou Tracy Emin que são por vezes referidos como conceptualistas da segunda ou terceira geração, ou pós-conceptualistas.

Espacialismo: Tempo, espaço e movimento

Espacialismo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Espacialismo ou Spazialismo, é uma representação do movimento da vanguarda artística italiana, fundado em 1946 pelo pintor Lucio Fontana e por outros artistas italianos. Esta corrente estética procurava incluir na concepção da obra de arte, paralelamente aos materiais plásticos tradicionais como a forma, a cor e a matéria, elementos como o espaço, o tempo e o movimento.
A sua principal contribuição foi o alargamento do entendimento da tela e da sua superfície enquanto campo de representação que podia superar a bidimensionalidade e integrar parte do espaço real envolvente. O artista mais marcante deste movimento foi Lucio Fontana, nascido na Argentina, mas radicado em Itália. Desde 1949, Fontana produz uma série de telas que eram perfuradas ou cortadas, assumindo estes cortes o valor de signos que permitem relacionar directamente o espaço real com o espaço pictórico. Os cortes ou perfurações, executados em quadros normalmente monocromos, representam vazios ou a ausência da imagem, criando um novo sentido na tela que contraria a tradicional concepção de superfície pictórica. Desta forma, o quadro ultrapassa as duas dimensões, absorvendo um espaço maior que se abre atrás dele.
Marcadamente cerebral e pouco sensitiva, a estética desenvolvida pelos pintores do Espacialismo abre caminho ao desenvolvimento da Arte Conceptual e da Arte Minimalista. O espacialismo combina ideias do movimento Dadá e da arte concreta. Fontana desejava criar arte «para a nova era» que mostraria o «autêntico espaço do mundo». O que diferenciava este movimento do expressionismo abstracto era o conceito de erradicar a pintura, e tentar captar o movimento e o tempo como os principais princípios da obra. Os pintores espacialistas não coloriam a teia, não a pintavam, senão que criavam sobre ela construções que demonstravam aos olhos do espectador como, também no campo puramente pictórico, existia a tridimensionalidade.
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Arte Povera

Arte povera

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Arte Povera ("Arte Pobre" em português) é um movimento artístico que se desenvolveu originalmente na segunda metade da década de 1960 na Itália. Os seus adeptos utilizam materiais de pintura (ou outras expressões plásticas não convencionais, como por exemplo areia, madeira, sacos, jornais, cordas, terra e trapos) com o intuito de "empobrecer" a obra de arte, reduzindo os seus artifícios e eliminar as barreiras entre a Arte e o quotidiano das sociedades.
Esta corrente artística surgiu e desenvolveu-se ao longo da década de 1970, período em que os artistas voltaram a sua atenção para as temáticas da natureza e seus derivados, rompendo com os processos industriais e revelando a sua critica ao empobrecimento de uma sociedade guiada pelo acumular de riquezas materiais.

Ready-made - Marcel Duchamp

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Caracteriza-se por uma operação de sentido que faz retornar o literário ao problema da arte, contrariando a ênfase modernista na forma do objeto artístico. O conceito de alegoria retorna na forma de uma operação que indicia um significado novo em um objeto concreto. Ao adotar tal operação de sentido, Duchamp termina por implicar mais que a obra de arte; é necessário tratar de toda a constelação estética que envolve a obra e da conjuntura de sentido que a produz, mas também a que a sustenta e sanciona.
É o caso de "Fonte", de 1917. Apresentada no Salão da Sociedade Novaiorquina de artistas independentes, constituida a partir de um mictório invertido. A operação que o caracteriza é o deslocamento de uma situação não artística para o contexto de arte. Tal operação é marcada por sua apresentação como escultura e assinatura. À inversão física do objeto corresponde a inversão de seu sentido, que se espelha no corpo do espectador. Do mesmo modo, "Porta-garrafas" (1914, readymade) e "Roda de bicicleta" (1913, readymade assistido) tiram partido de um deslocamento e manipulação do objeto para tornar o sentido de sua aparição crítico.
Ao longo de seu trabalho, Duchamp decide qualificar a produção de ready mades. A expressão se referia primariamente aos poucos objetos que não sofreram qualquer intervenção formal. Na qualidade de objetos, assim, de algum modo transformados, temos os ready mades ajudados, retificados, corrigidos e recíprocos, segundo o modo pelo qual sua forma sofre interferência por parte do artista. (Wiki).